quinta-feira, 8 de maio de 2014

Porque eu amo quadrinhos

Estava no meio da noite desenhando e apanhando - aprender dói -  quando pensei: porque eu gosto de quadrinhos?

Toda paixão tem um ponto de partida, tem um motivo, aquela faísca que acende tudo.

Você pode elencar mil razões de porque quadrinhos são importantes, porque eles são uma forma de arte ou qualquer outra desculpa que você acha que precisa para estar nos seus 30, 40, 50 anos e "ainda ler quadrinhos".

Retrocedendo o máximo que posso na minha memória afetiva eu consigo chegar em uma origem clara de porque eu amo quadrinhos. É meio triste no fundo, porque na real, o único motivo de uma das minhas principais paixões é que ela simplesmente era a única coisa que estava lá.

Hoje é mais fácil acompanhar narrativas "sofisticadas" para pessoas de todos os gostos. A Marvel arquitetou um plano brilhante (obviamente apoiado em pequenas outras experiências de outros aventureiros) e está desdobrando uma história gigantesca em uma quantidade enorme de filmes.

Os seriados se tornaram outra reserva de boas construções narrativas, fora os livros com várias continuações e até os games que trabalham em cima de roteiros complexos.

Mas volte um pouquinho no tempo e pense em uma cidade que tem uma única sala de cinema, nenhuma livraria, um teatro basicamente utilizado para solenidades e uma biblioteca com todos os clássicos que você não está preparado para apreciar. Ah, e obviamente sem internet.

Assim era a cidade que eu cresci, na real ela é um tanto assim até hoje.

Nessas condições, se você pensar bem, como você pode conseguir acompanhar uma história que te envolva, que seja interessante e que esteja sempre lá pra você?

Se você pensar nessas cidades como eu descrevi, o único ponto de cultura de "massas" que se tinha era a banca de jornais e lá, os quadrinhos.

Então foi isso, os quadrinhos apareceram como a forma de narrativa mais sofisticada que eu poderia encontrar e neles eu apoiei toda a minha vida cultural.

Quando você dá um pulo no tempo para o mundo sem internet e sem tevê a cabo, você nota que as opções são tão poucas que você se apaixona pelas pequenas migalhas que você acha.

Arquivo X (transmitido em um horário horrível pela record), alguns desenhos animados com história contínua ou qualquer coisa que oferecesse um pouco mais, mesmo que muito pouco mais, em termos de narrativas parecia totalmente genial.

E os quadrinhos estavam sempre lá. Óbvio, os quadrinhos tiveram seus momentos bons e ruins, mas, mesmo nos piores momento, mesmo na Saga do Clone do Homem-Aranha, era algo que estava ali na banca.

Com o tempo aprendi a gostar muito dos livros, do cinema, teatro e tudo mais, mas isso só aconteceu quando estava em São Paulo, quando já existia internet. Tudo ficou ridiculamente tão simples que não tenho como não amar essa era em que vivemos apesar de todos os seus problemas e do fato que ela provavelmente vai nos matar muito mais cedo do que deveria ou por um câncer ou por um violência urbana qualquer.

Acho justo arriscar uma vida com direito a morte abrupta em troca da cultura de massa efetivamente de massa, ou seja, com acesso farto (e veja, o Brasil é um país absurdamente limitado em termos de cultura, mas comparado com o passado, estou tranquilo porque tenho ao alcance das minhas entretenimento o suficiente para duas vidas)

Posso dar mil voltas aqui, mas é isso, quadrinhos eram quem estava lá pra mim quando eu mais precisei, a única fonte do que eu queria.

Entendo muito que a nova geração não queria ler quadrinhos ou mesmo livros (acho triste, mas entendo). Todos temos necessidade de narrativas de algum tipo para preencher algum canto da nossa vida (a audiência das novelas estão aí para provar), mas hoje, felizmente é tão fácil conseguir isso que os quadrinhos talvez não prendessem o meu coração se tivesse nascido hoje.

O mundo da tecnologia é tão incrível que a sua vida e a de seus amigos virtuais já são uma fonte infindável de narrativas, coisas como esse blog ou a frenética timeline do facebook provam isso.

E é isso, eu devo tanto as bancas de jornais e aos quadrinhos que nem sei mensurar. Ainda bem que eles estavam lá, ou não gostaria de livros, filmes, séries, desenhos e tudo mais que é tão importante pra mim até hoje.




2 comentários:

  1. Cara me identifiquei com o seu texto, até porque eu sou um divulgador de quadrinhos ferrenho (o povo aqui da faculdade não me aguenta mais), mas quando eu era criança, e olha que eu morava em São Paulo, a única coisa que a minha mãe conseguia comprar esporadicamente era os gibis de super-heróis que eu lia e relia dezenas (ou centenas) de vezes, só quando eu fiz 14 anos e comecei a trabalhar é que comecei a virar o colecionador que ainda tento ser até hoje (porque o dinheiro nunca é o suficiente).

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  2. Olá ilustre Zé Oliboni. Digo aqui que os quadrinhos também me acompanharam (ou eu os acompanhei?) durante nos a fio de minha vida por várias razões, dentre as quais algumas coincidem com as que você relatou em seu texto, o qual está muito bem escrito. Sinceros abraços e votos de uma ótima semana. Antheps

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